sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um conto chinês




Um conto chinês (Un cuento chino, 2011) é um caso que ilustra perfeitamente o quão incômodo pode ser o chamado meio-termo. Não tem nada de errado nesta simpática produção, exceto o fato de ser plenamente descartável. O espectador desejoso por uma distração de 90 minutos sairá satisfeito. No entanto, resta a sensação de que o potencial dessa história poderia ser maior se os realizadores tivessem mais ousadia. Alguns elementos, como o cuidado da produção de arte e a escalação do ator principal, intensificam um defeito cuja origem não está em seu resultado final, mas no que ele suscita a partir da utilização desses elementos.
A história de Um conto chinês é simples e direta. Um dono de uma loja de ferragens ranzinza e solitário, Roberto (Ricardo Darín), tem sua rotina balançada com o surgimento de dois visitantes. O primeiro, Jun (Ignacio Huang), um chinês perdido e sem conhecimento de espanhol que, por uma série de circunstâncias, é abrigado por Roberto. A segunda é uma paixão antiga, Mari (Muriel Santa Ana). Estes dois terão um papel importante em fazer com que o protagonista se abra para o mundo, a vida e o amor.
O fato de ter Ricardo Darín, um dos atores argentinos mais talentosos e reconhecidos internacionalmente, como protagonista, enfatiza uma antecipação por algo a mais que não surge. Darín está bem no papel e parece se divertir interpretando o rabugento Roberto. Fora esta "alegria de performance", não há nada no texto que distancie o personagem de um arquetípico Scrooge. Para usar um metáfora futebolística, a presença de Ricardo Darín é neste filme como Ronaldinho Gaúcho jogando em um time de pequena categoria e muita pompa. Evidente que ele fará um bom serviço, mas a percepção de desperdício é tremenda.
Os outros atores fazem um bom trabalho. Huang alterna entre o desespero e o servil enquanto Santa Ana é encantadora, cumprindo cada um, a sua maneira, a tarefa designada: atormentar o acomodado protagonista. No caso, um simboliza o elemento estranho, aquele fator inesperado que pode mudar sua existência como a tal vaca que cai do céu. Ele aponta para a impossibilidade de permanecer parado no tempo, com sua urgência e, principalmente, a barreira de comunicação. Ela é a esperança, a recompensa que pode o estar aguardando se for esperto o bastante para entender o significado do chinês. E, como elemento que serve como sinal de movimentação, a vaca holandesa.
Um conto chinês não é um filme ruim ou um desperdício de tempo. É um desperdício de talento e potencial narrativo. É uma história que foi contada sem arroubos de novidade, mas que, para seu crédito, é feita de forma competente. No entanto, às vezes, ser satisfatório não basta. É preciso ousadia para criar algo novo e não ser como um velho acomodado e repisa constantemente as mesmas manias. É a lição que Um conto chinês deveria ter aprendido com seu protagonista.

Escrito para o site "Almanaque Virtual" em 08/09/11