quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Zenas kariokas 1
Muito bem. Estou no ônibus 570. Sem ar condicionado. Lotado. Do lado de fora, chove. Janelas fechadas. Sem ar condicionado. Abafado. Neste ambiente, os passageiros, sem saída, conversam.
Primeira situação:
Um senhor carregado de sacolas entra, forçando seu caminho até a traseira do ônibus. Parece sem fôlego.
- Abra as janelas. Tudo fechado... vai espalhar HIV...
A garota atrás de mim pergunta para a amiga:
- HIV se pega pelo ar? Não sabia.
Vivendo e aprendendo.
Segunda situação:
Dois amigos, mais à frente no ônibus, batem papo:
- ... sabe aquele com a caveira?
- Édipo?
- Isso! Édipo!
Ser ou não ser? Não ser.
Terceira situação:
Uma mulher de meia idade, usando sandálias (é impressionante a quantidade de pessoas que estão de sandálias na chuva...), pede para saltar e se posiciona na saída. O motorista para e, logo abaixo, uma imensa poça escura encara.
- Moço, pode ir mais pra frente, que aqui tem uma poça enorme?
O motorista atende o pedido e para de novo uns poucos metros adiante. Em frente à porta, um imenso carro preto bloqueia a passagem.
- É, acho que aqui não é melhor não...
Esse comentário foi meu. Mas outra alma espirituosa me ouviu. E fez sua tréplica.
- Vai saltar como? Por cima do carro?
Fingi que não era comigo e fiquei quieto.
Quarta situação:
As garotas atrás de mim (as mesmas sobre a mutação do HIV) notam que a chuva deu uma trégua:
- Gente, parou de chover. Por que não abrem as janelas?
- É. Quer ir pra sauna, vai pro clube.
Eu abri minha janela.
Sou como Groucho Marx nesse sentido, não pertenço a nenhum clube que me aceita como sócio.
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Por essas e outras é que adoro andar de ônibus. O ser humano sempre surpreende.
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