quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Coisas que não suporto 1


Algo me diz que esta será uma série longa...

Sou um carioca por criação. Gosto da cidade. É legal. Mas, como todas as coisas legais, pode ser incrivelmente irritante às vezes. Há momentos em que o Rio de Janeiro, com o providencial auxílio do calor, se assemelha a uma filial do inferno.

Exemplo do dia: ônibus (e estou me referindo apenas à Zona Sul).

- faça chuva, faça sol, os ônibus lotados invariavelmente são quentes, abafados e lentos. Muito lentos. Por que as pessoas não esperam o próximo a chegar (e a Zona Sul é bem abastecida neste aspecto) vai além da minha compreensão.

- vendedores ambulantes, como todos os mortais, precisam ganhar seu ordenado. Eles poderiam estar roubando, estar matando, mas preferiram fazer uma grana honesta. Excelente atitude, eu aplaudo. Devo, inclusive, meu fornecimento de amendoins com casca a eles. Mesmo assim, são um pé no saco. Se você é alguém que está cansado, precisa de um tempo para organizar seus pensamentos ou está preocupado com negócios pendentes, seu estado de instropecção é brutalmente interrompido por:

"BOA TARDE, SENHORAS E SENHORES PASSAGEIROS. DESCULPE ESTAR INCOMODANDO O SILÊNCIO DA SUA VIAGEM..."

Neste instante, o que surge à mente é:

"Desculpa o c@#$%¨&*! Se não quer incomodar o silêncio da viagem, cala a p*&¨%$ da boca, seu filho da p*&¨!"

E fico tão perturbado que só consigo prestar atenção à minha irritação. Exceto quanto meu estoque de amendoins com casca está no fim. Ou se eu quero um chocolate. Ou uma caneta. Quero dizer, se eles tivessem um centro de treinamento, onde pudessem formar um grupo de estudos acadêmicos dedicado a abordar os passageiros sem assustá-los ao mesmo tempo, seria muito bom. Mas talvez esteja sonhando.

- Imagina o seguinte: Você entra no ônibus quando ele ainda não alcançou os pontos de concentração. Há lugares vagos, você pode escolher o seu, parece agradável. Vamos supor mais uma vez que você decida se sentar mais à frente ou no meio. Aí, eles, um bando por vez, entram. Como a praga de gafanhatos, infestam o veículo por todo lado, levando a máxima do coração de mãe para a realidade do transporte público. Seu momento de deixar a lata de sardinhas motorizada se aproxima. Olha para cima. Olha para o lado. Ah, não... Mas é preciso fazê-lo, caso contrário, você não desce. Aí, você se espreme, usa força, os cotovelos, tudo, porque eles não se movem (não conseguem!) e, a cada passo errado, mais riscos de não saltar no local pretendido. Você se esfrega em todas pessoas que pode imaginar, principalmente naquelas em que não se esfregaria em outras circunstâncias. Você chega à traseira do ônibus, puxa a corda e se sente como a Sônia Braga em "A dama do lotação". Só que não há prazer. Nenhum.

- Dirigir por horas a fio deve ser um porre. Manter sua sanidade enquanto executa esta tarefa provavelmente faz do homem um forte. No entanto, nem todos conseguem. Até o momento, dividi os enlouquecidos em três categorias:

Há os "pilotos", aqueles que parecem estar loucos para chegar ao grid do ponto final, correm nas congestionadas e tensas vias como se estivessem em Intergalos e acreditam que Galvão Bueno com prancheta na mão e camisa azul os recepcionará.

Também há os mais "baianos". O dia está lindo, outros ônibus da mesma linha estão fazendo a coleta de passageiros, para que a pressa... e param numa esquina, fazendo hora enquanto você se desespera porque, ao contrário do motorista, tem um compromisso marcado. É uma maldição que parece afetar bastante o 474.

E, finalmente, encontramos os "conversadores". Esta espécie é um primo do vendedor ambulante, mas pior, porque esse, eventualmente, salta. O motorista "conversador" fica com você até o final da sua viagem. O ônibus é barulhento e o cara quer ser ouvido. Então, ele faz mais barulho que o ônibus. Ele grita sobre os mais variados e, geralmente, desinteressantes assuntos para o colega trocador ou algum amigo que pegou em dado momento do trajeto. Quando o sinal fecha e, por um golpe do distante, um camarada motorista para sua colorida condução ao lado da dele, ambos abrem a janela e fazem um coro para os passageiros de ambos os transportes. Às vezes, o trocador também tem um opinião e vira um terceto. Ou o trocador do outro lado igualmente deseja se expressar e temos um quarteto. Poderia ser uma ópera bufa mal escrita se não fosse trágico. E o passageiro, vítima do espétaculo, começa a pensar se deveria pegar o dinheiro do ingresso (valor mínimo de R$ 2,20) de volta...


Posso reclamar bastante, mas gosto de ônibus. Até porque há coisas piores. Como a linha 2 do metrô.

Um comentário:

  1. Se eu não tivesse preguiça de escrever, provavelmente poderia te acusar de plágio!

    Só faltou falar dos ônibus com ar condicionado...

    Beijo,
    Landsberg

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