sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Crônica: Um calor do caralho!



Um calor do caralho!

 

We can't stop here! This is bat country!
Hunter S. Thompson

O clima esquentou, não há dúvidas. Nas ruas, indiferentes avaliadores de temperatura estampam 50º e há cheiro de sangue. Misturado com urina, pimenta, carne e lágrimas. Wander Wildner esteve no sebo Baratos da Ribeiro e cantou "Um lugar do caralho". Se ele vivesse nesta cidade, adaptaria a letra para "Um calor do caralho!" A menina sentada em uma mesa ao lado da minha no bar define: "Um calor dú ca - ce - tí !" Eu não sei. Fico com caralho mesmo. Afinal, desde o começo de 2014 sinto que estamos todos tomando no cu, metaforicamente falando. Bom, alguns não.
A morte brutal do cinegrafista, atingido por um rojão, encerrou a fase romântica das manifestações. Deu-se início a uma era de prata, cuja perspectiva conserva somente a coloração do metal, e nada de sua preciosidade. As redes sociais, após uma longa convivência pacífica de tofu, se tornaram as arenas de MMA para que foram originalmente planejadas. À distância, os combatentes tiram as luvas e travam um confronto post a poste.
A situação seria engraçada se não fosse tão Kafka de ressaca às 7h da manhã de uma segunda-feira. E, é claro, acordando com este clima que, se não nos matar, nos transformará em mutantes. Prevejo que em breve poderei ler no escuro.
Estou na Casa Porto, um sobrado na Zona Portuária, e uruguaios cantam Cartola. São bons, e o ligeiro sotaque dá ao show um leve toque de experiência antropológica. O ar condicionado do local ajuda a reorganizar as ideias. Isto, e as doses de Heineken e Budweiser, cervejas sem milho. Suponho. O embaralhamento da mente auxilia em uma ordem caótica de paz artificial. Também serve à adjetivação inescrupulosa que é uma beleza.
Estalo os ossos e, em um lugar distante e desencantado, o reino da Central do Brasil, o chicote deve estalar no momento. É um filme velho, com gente correndo em meio a nuvens tóxicas e nervosas. Não acompanho em tempo real à manifestação que ocorre. A mente, travesti violento, me sacode.
As pessoas que estão lá, cuja definição depende da filiação alheia, foram gritar contra os abusos sucessivos do estado. De novo, a definição do estado é feita de acordo com quem você fala. "A gente morre sem querer morrer", canta meu amigo brasileiro de olhos azuis. Mais uma vez, a política invade no quebra quebra, em forma de música de protesto. É impossível viver no Rio de Janeiro de fevereiro de 2014 sem estar emergido em caos político. A máxima de Antônio Conselheiro se tornou realidade.
Ai de nós, admirados de sabiá! As aves que aqui gorjeiam não vandalizam como lá! Temos 10 mortos, "vândalos" de todas as  formas, tamanhos e interesses, uns picadeiros de guerra civil e nenhuma solução. Se sobrevivermos até a copa, será um espetáculo e tanto. Pouco provável que tenha futebol, com exceção do Fla - Flu ideológico.
Os inimigos se multiplicam como marcas de merda de pombo no chão. Depois de fevereiro, nem todos curtirão as postagens do vizinho como antes. Com exceção (esta palavra na moda) se for a respeito deste calor do caralho cacete tenso! Prestes a enrabar. O clima fritou os miolos de todos nós. Chove, porra!

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