domingo, 5 de janeiro de 2014

Relato pessoal do despreparo de 190, 192 e da pm



No sábado à noite, dia 04/01/14, parei para beber em um bar na rua Barata Ribeiro, perto da esquina com a rua.Mascarenhas de Morais.
Estava tranquilo, sozinho no meu canto, imerso em mim mesmo.
Pouco depois, apareceu uma mulher de 20 - 30 anos no bar, transtornada. Gritava, chorava, muito estranho. Não parecia machucada. No começo, achei que estivesse gritando com alguém dentro do bar, como um ex-namorado, algo assim. Não era. Era uma mulher cega, andando sozinha na rua, muito agitada e agressiva. Gritava, agarrava clientes nas mesas, num desespero só.
Algumas pessoas riram do bizarro da situação, mas encarava a situação com misto de pena e preocupação. Algo estava errado.
Após ela agredir um pessoal sentado numa mesa, o segurança do bar a levou até o lado de fora, sentou-a num banco ao meu lado, e ficou conversando com ela. A mulher continuava chorando, dizendo que só queria uma cerveja, algo assim. Sua voz era aguda e a entonação era péssima, tornando partes de sua fala incompreensíveis. O segurança trouxe uma lata. Ela insistia em uma garrafa e queria ir para dentro do bar, o que o segurança não deixou.
Aí, eu tento conversar com ela. Tento aconselhá-la a ir para casa, que ela não me parecia bem, mas ela é muito hostil.
Sem querer, acho que devo tê-la deixado ainda mais agitada, pois ela se levanta e caminha em direção ao bar. Ela tenta entrar de novo, o segurança intervém e a conduz de volta à cadeira. Em seguida, ela se levanta. Ainda grita, entra no bar, agarra um cliente lá dentro, cai no chão, quebra uma mesa.
Enquanto um grupo tenta levantá-la, ligo para 190. Aparentemente ninguém tinha ligado antes.
Fico na linha por pelo menos 20 minutos.
Enquanto isso, a mulher gritava, agarrando o que encontrasse pela frente. Pegou em uma menina de forma violenta, quase derrubando da cadeira. Ainda fico na espera, ouvindo "Danúbio Azul", intercalado por uma voz eletrônica que afirmava que minha ligação era muito importante. Não contei quantas vezes ouvi, mas foram várias.
Finalmente, alguém me atende. Descrevo a situação, mas como nada ainda tinha acontecido que pudesse resultar em ocorrência, escutei que não podiam enviar uma viatura, apesar de a 12a. DP estar a duas ruas de distância. Discuto com a atendente sobre a necessidade de alguém levar a mulher cega e transtornada de volta para casa. A pessoa do outro lado da linha repetia “Senhor, está me escutando?”, mas a impressão é que eu que não era escutado. Repeti diversas vezes o que ocorria, com a atendente inclusive reconhecendo que escutava os gritos da mulher, mas por nada adiantou. “Alguma coisa grave vai ter que ocorrer para vocês finalmente decidirem enviar alguém, é isso?”, perguntei, em um misto de angústia e amargor. A atendente fala para eu ligar para o 192 e desliga na minha cara, sem me dar a chance de falar mais nada.
Ligo para 192, que me diz para ligar para 190. Disse que já tinha ligado, e que eles tinham pedido para ligar para 192.. Descrevi de novo a situação, endereço, tudo. Nesse meio tempo, a mulher vai embora, sozinha. Ninguém a acompanha. Enquanto fico na linha, observo de longe a mulher cega. Ela ainda está agitada.
Quando noto que ela vai seguir a esmo, começo a segui-la de perto. Faço uma nova abordagem, sugerindo que pegasse um táxi, mas ela me empurra e diz que quer beber em outro lugar.
A atendente do 192 ouve a mulher cega gritando na rua e diz que não pode enviar uma ambulância, porque a mulher está em movimento. Ela sugere que eu contenha a mulher até a chegada de um carro. “Em quanto tempo chegaria este carro?” Nenhuma resposta. Falo: "Eu tenho 1m65 e 70kg. Como vou conter sozinho uma pessoa de 1m73 e mais de 80kg?"
Ela atravessa a rua República do Peru, e segura a grade de um prédio, gritando e chorando. Um grupo de pessoas vem na direção oposta e encontra a mulher. Estou no outro lado rua, observando. Atravesso. Falo para um homem de camisa branca e uma mulher de camisa preta do grupo que estou com 192 na linha e conto rapidamente o que houve. Uma outra mulher mais velha, que estava perto de mim no bar, me seguiu e se juntou ao grupo.
192, nada.
Finalmente, uma viatura do PM aparece por acidente (não por terem sido acionados). A mulher mais velha do bar e a menina do grupo com que conversava param o carro e falam com os pms.
192 pede para falar com os pms, mas eles me ignoram. Eles me solicitam informações, que repasso.
Depois, soube por uma outra menina do grupo e a mulher do bar que me seguiu que os pms foram bastante hostis e que chegaram a sugerir que o grupo estava comentendo desacato, e sendo agressivo com os pms. A impressão é que eles não queriam nada com a cega ou conosco. A impressão de seu tratamento conosco e com a situação foi a pior possível, oscilando entre a arrogância brutal da “autoridade” e o descaso.
Finalmente, duas meninas do grupo falam para os pms que uma conhece alguém na corregedoria e outra, que tinha conhecimento legais, afirmou que abriria inquérito por omissão de socorro. Elas anotaram o número da viatura e dos pms. Enquanto isso, uma terceira menina do grupo conversava à distância com a cega. Vendo que a situação estava além do meu controle agora, voltei para o bar e paguei a conta. Após pagar, voltei para o local para ver se estava tudo realmente encaminhado.
A esta altura, todos tinham se deslocado para a outra esquina, a rua Paula Freitas. Um pm anotava numa prancheta e falam que eu comecei a confusão toda. Falam entre si e são muito hostis comigo, mas como o grupo que cruzou com a menina ainda estava por lá, só ficam me dando indiretas, pois todos eram testemunhas do que ocorreu. Pelo menos, acho que foi por isso que não mexeram diretamente comigo. Só grosseiras.
Fiquei conversando com um cara do grupo e as duas meninas, explicando com mais detalhes qual era o meu papel nesta história toda.
Ao nosso lado, de repente, desmaia uma mulher que estava em outro grupo no bar que fechava na esquina da Paula Freitas, provavelmente por beber demais.
O grupo que cruzou com a menina cega se dividiu entre ficar com a menina cega e prestar socorro a garota que desmaiou, junto com os amigos dela. O clima é tenso. Um policial faz um comentário jocoso quanto à garota no chão, o que provoca ainda mais nervosismo em uma das meninas do grupo. A viatura leva a jovem inconsciente para o Samu.
Um pm fica, anotando depoimentos e afirmando para o grupo que a culpa era minha. O cara e a menina de camisa preta estavam comigo antes da viatura aparecer. E a menina de camisa preta com a amiga tiveram que apelar para que os pms fizessem o trabalho deles, por conta de uma conhecer alguém na corregedoria e outra ter conhecimentos sobre direito e anunciar para os pms que eles seriam enquadrados por omissão de socorro.
Enquanto isso, uma mulher, que disseram ser a mãe da cega apareceu Ela estava com o pm que ficou e as mulheres, Alguém do grupo, acho que a menina com conhecimentos de direito, me contou a mãe deve levá-la para casa e fico mais aliviado. Com a cega encaminhada e aquele pm me encarando com raiva e me dando indiretas, falo com o cara do grupo que é melhor eu ir embora, e ele concorda.
Volto para o bar onde estava quando tudo começou e converso com a mulher mais velha, que abordou os pms junto com o grupo.
Enquanto relato o que ocorreu, reapareceu a cega, agora calma e segurando o braço da menina de camisa preta. Ela faz um gesto pedindo silêncio e diz que vai levar a cega em casa.
Tudo isto aconteceu na mesma região onde há 4 dias um tiroteio envolvendo uma abordagem da pm à uma briga de casal culminou em tiroteio e 19 feridos.

2 comentários:

  1. pois é, querido. triste, muito triste. antes de eu descobrir que tinha problema de coração, passei mal em casa sozinha. liguei pro 192. demorou mais de 10 min pra eles passarem a ligação pro médico, que, depois de perguntar minha idade, disse que eu era muito nova pra estar infartando e desligou na minha cara. não há segurança ou saúde públicas em nossa cidade, infelizmente. e a educação está indo pro mesmo buraco

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  2. O cidadão que se dane: sem saúde, sem educação e a polícia, que deveria servir à população, é isso aí, sem o menor preparo para lidar com as questões da cidade, negócio deles é dar tiro.

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