quarta-feira, 29 de julho de 2009

Em defesa de Danilo Gentili


Não acho que Danilo Gentili foi racista. É isso. Antes que alguém surja falando que eu e Ali Kamel somos os únicos que não acreditam em preconceito de raça no Brasil, respondo. Racismo é real e desprezível. Toda e qualquer manifestação que sirva para desmoralizar uma pessoa ou entidade devido a cor da pele, opção sexual, religião, ... deve ser julgada de acordo com o rigor do insulto e punida. É simples. Espero todos possamos concordar neste ponto. Agora, voltemos ao “repórter inexperiente”.
Para aqueles que não sabem, o humorista do CQC teria feito uma piada supostamente racista. Na madrugada de sábado para domingo, dia 25, Gentili escreveu em seu perfil no twitter:
“King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loura. Quem ele pensa que é? Jogador de futebol?”
Até o momento, a mensagem foi encaminhada para o procurado do Ministério Público Federal em São Paulo e a ONG Afrobras planeja lançar uma carta de repúdio ao ato e avalia se entrará com uma representação criminal. Até o Hélio de La Peña entrou na história, condenando o comentário.
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u601611.shtml)
A reação não surpreende. Numa época que privilegia o imediatismo no lugar de uma reflexão sobre atos e em que há uma confusão entre má-fé e incompreensão, é necessário ter muito cuidado. O problema não é necessariamente o que se escreve, mas a forma como se o faz. A piada do Gentili é um exemplo perfeito. O silogismo que as entidades ofendidas realizaram é evidente.
“Macaco” é um termo pejorativo para negros. “Jogador de futebol”, muitos são negros. Logo, os negros são “macacos”.
Nem todo negro é jogador de futebol e vice-versa. Petkovic, que retornou ao Flamengo, é sérvio. Kaká, considerado um dos melhores do mundo, é branco e filho de pais ricos. Tudo bem, são exemplos extremos, mas servem para simbolizar que o futebol não é necessariamente ligado à raça. Há uma conexão forte com o fator social, pois muitos vieram de famílias de poucos recursos. Ainda assim, a ideia de imediatamente ligar a imagem de um jogador de futebol a uma pessoa negra é limitada, para não dizer perigosa. É ignorar que a vasta população de renda baixa no Brasil não consiste apenas de um grupo ligado pela cor, mas por uma condição social. A pobreza no Brasil tem muitas origens. Logo, partindo de outro silogismo, afirmar que jogador de futebol é negro, aceitando o fato de que esses vieram de locais mais humildes, seria dizer que todo negro é pobre. Ou seja, uma conclusão burra e igualmente racista.
A questão toda reside na palavra “macaco”. Esta expressão é umas das marcas mais fortes do racismo. Logo, qualquer coisa, mesmo que não intencional, que ligue negros ao insulto provoca alvoroço. E com razão! Deve ser combatido. Mas tudo dentro da razão, evitando uma caça às bruxas.
King Kong é um gorila. Um macaco; animal. Inegável. No filme, ele mantém uma relação quase amorosa com uma atriz loura, a que pega como refém quando se torna uma atração na cidade. Quanto aos jogadores famosos e suas louras... Brancos ou negros, a associação entre os atletas e mulheres voluptuosas e de cabelos dourados (naturalmente ou não) faz parte do folclore envolvendo o esporte. Deu origem à expressão “Maria Chuteira”. Basta lembrar das Ronaldinhas, ex-amantes do camisa 9 do Corinthians que fizeram fama por terem saído com ele. Elas, por sinal, eram louras. Embora ainda não haja um estudo comprovando o fascínio de jogadores de futebol por louras, é quase senso comum aceitar estas relações com um fato. Será que Gentili não estaria comparando a trajetória do Rei da Ilha da Caveira com esta curiosidade da cultura futebolística ou estaria simplesmente chamando negros de macacos?
Não conheço Danilo Gentili pessoalmente. Talvez ele seja o racista que está sendo pintado. No entanto, o sujeito é humorista e trabalha num dos programas mais populares na televisão aberta. Ou seja, o mínimo de inteligência, cultura e bom senso ele deve ter. Alguém que vive de brincar com convenções sociais e visado pela mídia não cometeria um erro tão estúpido. O fato de ele se recusar a apagar o que disse e querer se justificar com quem tenha se sentido ofendido é outra prova para mim de que as intenções aqui foram outras, nada envolvendo ofensas raciais.
O mais grave nesta história é que enquanto todos se levantam contra uma fala inofensiva tirada do contexto, o preconceito real é deixado de lado. Enquanto índios, nordestinos e homossexuais são espancados e queimados, idosos desrespeitados por companhias de ônibus e negros ainda são associados a pobreza e criminalidade, a sociedade dorme tranquila. São os fatos da vida. O politicamente correto funciona como uma cortina de fumaça para problemas sociais fortes. Para que investir em educação quando podemos enterrar nossas cabeças na terra? Para que procurar punições mais severas para estes crimes se o sistema judiciário não é igual para todos? São perguntas antigas e com um resquício de ingenuidade, mas que possuem uma verdade inquestionável: quando deixamos de ouvir os outros e passamos a gritar, como forma de não escutar os gemidos de dor que nos cercam cada vez lemos os jornais ou saímos na rua?...

3 comentários:

  1. Isso Daniiii!!! Foda!!! Vamos meter o pau na hipocrisia!!! Adorei aquela parte em que vc diz assim: "Embora ainda não haja um estudo comprovando o fascínio de jogadores de futebol por louras"... Hahahahahahahaha!!! Dá-lhe Ribass!

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  2. Ribas! Lê lá no Estadão: A Dilma disse que o Brasil já está "maduro para ter uma presidenta". O que isso significa?

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  3. Belo post, meu caro. Essa patrulha do politcamente correto está exagerando e estão tornando-se censores. Tenho medo do que esse povo pode fazer com a atual tendência de criminalização das palavras. Se continuar assim em alguns anos teremos mais um crimo no Código Penal:

    Art. XXX - Ser politicamente incorreto ou, ainda, agir de forma que pode levar a uma interpretação, ainda que indireta, de que se foi politicamente incorreto
    Pena - execração social, além de ONG`s e Ministério Público a encher o saco.

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